quarta-feira, 4 de julho de 2012

E a gente acreditou




    Quantas mentiras nos contaram. Foram tantas que a gente bem cedo começa a se achar burra, incompetente e sem condições de fazer  uma vida de sucesso, cheia de vitórias e felicidades. Uma das mentiras: que nós, mulheres, podemos conciliar perfeitamente as funções de mães, esposa, companheira e amante  e ainda por cima ter uma carreira profissional brilhante. É muito simples: não podemos.
    Se você se dedica de corpo e alma a seu filho recém-nascido, que na hora certa de mamar dorme e à noite, quando deveria estar dormindo, chora, com fome, é impossível estar sexy para cumprir um dos papéis considerados obrigatórios, o de amante. Aliás, nem o de companheira; quem consegue trocar uma ideia sobre politica se não teve tempo de fazer as unhas?
    Mas a humanidade está aí, querendo convencer as mulheres -e os maridos- de que um peixinho  com ervas ao forno com uma batatinha cozida al dente, acompanhado  de um vinhozinho branco, é facílimo de fazer e que assim o casamento continuará tendo aquele toque de glamour de filme francês. Ah, quanta mentira.
   Outra diz respeito à mulher que trabalha; não à que faz de conta que trabalha, mas a que trabalha mesmo. No começo, ela até tenta se vestir no capricho, usar salto e estar sempre maquiada, mas cedo se vão as ilusões. Entre em qualquer local de trabalho às 4 da tarde e vai ver um bando de mulheres maltratadas, com o cabelo horrendo, sem um pingo de glamour das executivas da Madison (nos filmes). Dizem que o trabalho enobrece; isso pode até ser verdade. Mas ele também envelhece, resseca a pele.
    Não adianta: uma mulher glamourosa e pronta a fazer todos os charmes -aqueles que enlouquecem os homens- precisa, fundamentalmente, de duas coisas: tempo e dinheiro. Tempo para hidratar os cabelos, fazer mechas, praticar musculação, comprar uma sandália nova, depilar; e dinheiro para tudo isso e ainda para pagar um aboa empregada, o que também custa dinheiro. É interessante a imagem da mulher que, depois do expediente, vai ao toalete - um toalete cuja luz é insuportavelmente branca e fria -, retoca a maquiagem, coloca os brincos e sai alegremente para a happy hour. Aliás, se as empresas trocassem a iluminação de seus banheiros por lâmpadas âmbar, os índices de produtividade iriam ao infinito; não há autoestima feminina que resista quando elas se olham nos espelhos desses recintos.
    Felizes são as mulheres que têm cinco minutos -só cinco- para decidir a roupa que vão usar no trabalho. Na luta contra o relógio, o uniforme termina sendo preto ou bege para tudo combinar sem que um só minuto seja perdido. Mas tem outras, com filhos já crescidos. Quando chegam em casa, têm de perguntar como foi o dia na escola, procurar entender por que eles estão agressivos. E ainda há aquelas que têm um namorado que apronta, mas acham que não conseguem viver sem ele, apesar de um grande cientista ter descoberto que só existem três coisas sem as quais não se pode viver: ar, água e pão. Convenhamos que é dificil ser uma mulher de verdade; impossiível mesmo, eu diria.


(Danuza Leão)

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Haven

    A espera era o pior, ele poderia não vir, ele poderia desistir de nós. Mas ele veio. Ele -meu grande amor- não desistira de mim.

    [...]

    Aquela noite estava na lista das mais perfeitas, eu tive dúvidas porém logo foram esquecidas quando olhei nos olhos de Shy, tive certeza do que eu queria...ele! Eu amava -mais que qualquer coisa- o beijo daquele homem, me fazia esquecer qualquer coisa. Esqueci que meu irmão estava no quarto ao lado, que meu pai poderia chegar. Nada me faria parar, eu estava entorpecida pelo seu amor, seduzida pelos seus olhos. Eu nem tinha noção se o que ele sentia, enquanto me beijava daquele jeito, era tão grande e intenso como o que eu sentia.
    Cada toque era uma viagem à um mundo que só pertencia a nós dois, onde ninguém poderia nos tirar dali. Shy era perfeito, assim como o momento. Certo e perfeito! Eu nem imaginava a tempestade que vinha pela frente em nossas vidas, que aquela seria a primeira e a última noite juntos.
    Muitas coisas foram acontecendo, o mau entendido daquela noite fez meu pai e meu irmão o odiarem e querer acabar com sua vida. Tudo foi acontecendo errado, não era assim que nós queríamos. Eles brigaram, Shy sumiu, eu virei uma viciada que banalizava o corpo como que para esquecer o que a ausência dele em causava. Aquela noite que parecia tão perfeita foi a primeira marcha pra minha derrota. O desencadear da história só acelerava e eu não tinha saída, não havia ''marcha ré'' eu só podia seguir em frente, caminhava para chegar ao fim da linha onde Shy estaria me esperando e sermos finalmente felizes.
    A pior notícia chegou aos meus ouvidos que me fez frear bruscamente e derrapar: Shy havia matado meu irmão durante uma briga. Eu não mantive o controle da minha própria vida, eu não podia continuar com o assassino de Hammer, aquele não era o Shy que eu conhecia, que eu era apaixonada e que me fez tão feliz naquela noite; com aquele mostro eu não ficaria.
    Então me dei conta que quanto mais eu acelerava mais me afastava dele, que ele não estaria me esperando no fim da linha. Abandonei a direção ali, desisti de chegar onde eu queria. Desde então, conduziria minha vida em outra estrada, em outro automóvel em que o combustível que me mova não seja o amor.